domingo, 25 de novembro de 2007

Piração da madrugada








Hoje não quis sair de casa...uma forte enxaqueca tomou conta dos meus sentidos, a única coisa que conseguia sentir era a dor. O dia inteiro dentro do quarto, dormindo, tentando aliviar a dor com remédios, luz apagada e nada resolvia. O telefone tocava e eu não atendia...convites ao meu encontro chegavam, deixei a covardia de lado e atendi algumas das ligações e confesso que foi chato ter que falar a verdade " não vou sair porque estou com uma forte dor de cabeça" parece desculpa pra boi dormir, não? mas era fato.
De repente , me bateu um desespero de ficar dentro de casa e um último convite foi feito. Minha irmã me chamando para ir em uma festa badalada em uma casa de um bãm bãm bãm atrás do Shopping Iguatemi. Ok ,tomei outro remédio pra dor , me arrumei rapidamente e me forcei a ir " preciso sair, respirar, ver a rua, ver gente" provar outros sentidos, porque naquele momento a única coisa que conseguia sentir, era a dor que explodia dentro do meu cérebro e me fazia sentir muito mal, sentir naúseas.
Não gosto desses papos tristes, não sou uma pessoa deprimida, mesmo nos momentos de tristezas sei que consigo ter humor , sei que consigo pensar " isso tudo vai passar". Triste ultimamente estar acontecendo coisas não tão boas, mas tenho certeza que logo-logo estarei escrevendo fatos incríveis neste blog. Podem aguardar.

Mas voltando...

Demos carona para um amigo artista plástico , ele já meio louco dentro do carro começou a contar sobre a vida e me perguntou " você já matou alguém e esta sendo julgada por isso? você já foi violentada sexualmente? Ele me perguntou , se referindo ao casal ( filha e genro) que se completavam por passarem por problemas tão fortes, tão graves, intensos. A filha havia sido violentada por 5 caras da faculdade depois de ter tomado uma bebida com o tal boa noite cinderela e o marido dela havia matado um amigo em um acidente de carro por irresponsabilidade no trânsito.
Me perguntei ...tenho algo tão forte pra carregar? pra enfrentar? não, realmente não...então suspirei e pensei " poxa, realmente sou feliz" não posso reclamar...ao mesmo tempo um pouco da minha dor de cabeça foi aliviada.
Aiiiii, que papo mais deprê essas horas da manhã ( 05:25). Mas continuando...

Cheguei na festa, pessoas dançando, bebendo, se divertindo, batendo papo, sorrindo..senti uma energia boa sim e lá estava eu...mais uma vez pensei " sou feliz , vou me divertir" Bebi dois drinks, o suficiente pra eu ficar um pouco mais cara-de-pau, um pouco mais eu, um pouco mais relax, tudo foi ficando muito divertido. Mas,chocante foi o momento em que um Professor de Economia da Unicamp na fila do banheiro me ofereceu um " teco"...é, isso mesmo, um "teco". Eu perguntei o que era e ele respondeu fazendo um gesto no nariz como quem diz " cheirar", perguntou mais uma vez e eu CLARO não aceitei, nunca haviam me oferecido. Encarei a situação com normalidade, como se aquilo fosse comum. O que poderia fazer? brigar? ofender? me assustar? ah, essas coisas não me assustam , por mais que eu não veja e não conviva com tal realidade tão de perto eu sei SIM da realidade, assito jornais e leio revistas..risos.

Muito rapidamente minha irmã quis embora. Chegou a mim e ao meu amigo, dizendo " eu vou embora, querem ficar ai? podem ficar, depois vocês voltam sozinhos" bom, ela sabia que estavamos de carona com ela. Eu não tinha alternativa a não ser ir embora, não me importei, o fato de voltar pra cama também me agradava profundamente. Fui então me despedir das pessoas e peguei o elevador . Cheguei na portaria e só tive tempo de ver o carro da minha irmã indo embora. Que aconteceu? porque ela fez isso? que eu fiz? ela me tirou de casa de pijama com dor pra fazer companhia a ela. Ok, fiz com toda boa vontade e ela sabia que não teria grana pra pagar um taxi e que não conhecia ninguém da festa ao ponto de me dar carona. Nossa, que decepção, o que a fez reagir dessa forma? Subi do volta pra festa chorando, sim assustada, sim decepcionada. não sou boba, não sou burra, sei me virar sozinha, mas era minha irmã quem me deixava na mão, na casa de estranhos sem saber como voltar. Liguei no telefone dela e nada de me atender. Então resolvi ir embora a pé...fui caminhando da marginal até Av. Nova Faria Lima...e chegando pela FARIA, fui caminhando sentido a santo amaro, pensei ate ir embora até minha casa ou esperar um ônibus depois da 5 da manhã. Sem dinheiro para táxi e sem ônibus de madrugada, o que eu poderia fazer? Muito medo senti andando sozinha , chorando com o sapato na mão. Porque teria que passar por todas essas situações ?? Ainda mais eu que sou a Maria carona, sempre presto essa gentileza com boa vontade e carinho. Que eu fiz dessa vida que me fizesse pagar um castigo tão cruel. Não sou nenhuma coitadinha, não ficaria sentada no chão da calçada chorando esperando uma alma iluminada me ajudar, um super homem passar..fui caminhando descalça, mesmo sem saber como chegar, escutando buzinadas e carros parando ao meu lado, como seu eu fosse uma qualquer, uma largada, bebada, uma louca. CARAMBA, que SITUAÇÃO! Enquanto eu caminhava, sabia sim as consequências de andar sozinha pela rua, escondi meus cartões de crédito e telefone dentro do sutiã. Me veio a idéia então de ligar para um casal de amigos, pois sabia que eles estariam em alguma balada. Tive sorte, eles estavão perto e me socorreram com uma carona. mesmo assim, senti vergonha de pedir ajuda. Mas como diz a velha estória, que seria da gente se não fossem os amigos pra nos levantar, nos acolher.
Agora estou em casa, pronta pra dormir, salva da piração da madrugada , salva da piração da cabeça de alguém que agiu sem pensar. Tudo bem, todos erram, mas que esse erro não coloque em risco a vida alguém, pior ainda se esse alguém ser da sua família.
Agora de volta a cama, para o lugar, onde não deveria ter saído hoje. Vou descansar em paz, feliz por ter amigos, feliz por ter sorte, feliz por ser forte...SEMPRE!!
Eliana Malizia
Uma grande amiga me mandou um poema depois que leu essa minha estória;
Resta esse constante esforço para caminhar dentro do labirinto
Esse eterno levantar-se depois de cada queda
Essa busca de equilíbrio no fio da navalha
Essa terrível coragem diante do grande medo,
e esse medoInfantil de ter pequenas coragens
(Vinícius de Moraes)

Um comentário:

Anônimo disse...

caramba!

da próxima vez me liga que eu vou até essa festa de gente maluca resgatar você! tô falando sério e você sabe!

mas já que já aconteceu... eu também já me peguei sozinha, a pé, de madrugada sendo bastante destratada pelos motoristas... isso aumentou a minha compaixão pelos moradores e trabalhadores de rua... aproximou-me do universo deles!

beijo com toda empatia do mundo