quinta-feira, 6 de novembro de 2008

Melhor Idade com...Fernando Pessoa


Saõ Paulo, 22 de outubro de 2008

Dia triste e ao mesmo tempo lindo. Consegue entender isso? Depois de um dia melancolico , com a magoa de ter tido um objetivo perdido e levado pelo vento. Mesmo deseludida me movimentei , ainda me restaram energia pra uma discontraida. Fui ao espaço da Cultura Inglesa acompanhar um recital de poesias de Fernando Pessoa , na voz e presença do Ator Francisco Cuoco.


O programa foi um tanto de risco. Risco de morrer de chorar ao ouvir as poesias falando sobre amor , vida, sonhos....

Cheguei no local sozinha uma hora antes da data marcada. Envergonha e sem jeito me encontrei em um cantinho bem perto do palco. As pessoas começaram a chegar, parecia que ali todos se conheciam, 99% velhinhos e 1 % ( eu) . Idosos, super bem arrumados, cheirando seu melhor perfume, vestindo sua melhor roupa. Achei lindo tudo aquilo. estusiasmados, felizes, falantes, bebendo seus drinks, vivendo a idade melhor de suas vidas.


Todos se colocaram frente ao palco, sentamos em mesas grandes e redondas. Eu lá no meio dos velhinhos simpáticos prestando atenção em suas conversas e em todos detalhes. Sentindo-me um peixe fora d'agua, fui perdendo a timidez e relaxei pronta para apreciar o show de poesias do Fernando Pessoa.

Francisco Cuoco se posicionou na parte mais alta do palco e começou o recital. Que lindo, que bom estar ali....tudo foi delicioso, suave, envolvente, prestei atenção em cada palavra. Cuoco interpretava ao recitar os poemas. Que bom sentir emoção. E não me derreti a chorar do jeito que pensei...senti o coração bater mais forte e grata por estar ali. Orgulhosa de estar lá mesmo sozinha .


Escrevi aqui trechos e poesias completas do Fernando Pessoa. As que mais gostei e as que me completaram, me confortaram em relação ao momento que passava.




AUTOPSICOGRAFIA

O poeta é um fingidor.

Finge tão completamente
Que chega a fingir que é dor
A dor que deveras sente.

E os que lêem o que escreve,
Na dor lida sentem bem,

Não as duas que ele teve,
Mas só a que eles não têm.

E assim nas calhas de roda Gira,
a entreter a razão,
Esse comboio de corda
Que se chama coração.

Parte da poesia ; MAR PORTUGUÊS

Valeu a pena? Tudo vale a pena
Se a alma não é pequena.



BASTA PENSAR EM SENTIR


Basta pensar em sentir
Para sentir em pensar.
Meu coração faz sorrir
Meu coração a chorar.
Depois de parar de andar,
Depois de ficar e ir,
Hei de ser quem vai chegar
Para ser quem quer partir.

Viver é não conseguir.

Partes da poesia; QUADRAS AO GOSTO POPULAR


A vida é um hospital

Onde quase tudo falta.

Por isso ninguém se cura
E morrer é que é ter alta.


Se eu te pudesse dizer
O que nunca te direi,
Tu terias que entender
Aquilo que nem sei.




A apresentação musical de fado com a cantora Alexandrina Ribeiro e o violinista Bonfim foi parte do encerramento. Músicas de Portugal, homenageando Fernando Pessoa.


Parte da música que não me saiu da cabeça...me fez lembrar de todo um passado esquecido.


Valeu a pena beijar quem beijei
sentir o que senti
amar quem amei
valeu a pena...


PESSOA, Fernando, 1888-1935


Poeta ímpar no universo das letras portuguesas, Fernando António Nogueira Pessoa é hoje considerado, também, um dos maiores vultos da poesia europeia do século XX.


O poeta é múltiplo: dentro dele encerram-se vários “eus” e ele não se consegue encontrar nem definir em nenhum deles, é incapaz de se reconhecer a si próprio – é um observador de si próprio. Sofre a vida sendo incapaz de a viver.